sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Último jogo oficial de Marcelinho Carioca pelo Timão completa seis anos


Agência Corinthians

03/08/12 17h05
O encontro entre a Fiel e um ídolo, apenas um segundo para a reação dos torcedores e duas palavras gritadas instantaneamente. Como se fosse instinto, a torcida reverencia o quinto maior artilheiro da história do Corinthians: “Uh, Marcelinho! Uh, Marcelinho!”. O Pé de Anjo, além de ídolo, também entra para a estatística como o jogador que mais ganhou títulos com a camisa alvinegra. Neste domingo (05), Marcelinho Carioca completará seis anos de seu último jogo oficial pelo Timão, ainda pelo Campeonato Brasileiro de 2006, contra o Atlético-PR. Confira o especial sobre a história do craque, preparado em parceria com a Placar.
Nascido no Rio de Janeiro, no dia 1º de fevereiro de 1971, Marcelo Pereira Surcin iniciou sua caminhada no futebol com a camisa do Flamengo. A estreia pela equipe rubro-negra não poderia ser mais simbólica, já que veio num clássico contra o Fluminense. Com apenas 11 minutos de jogo, Zico se machucou e deu lugar ao jovem de 17 anos. Coincidência ou não, o “Galinho de Quintino” era um especialista nas cobranças de faltas. A convivência ao lado do craque nos treinamentos rendeu experiência e ajudou Marcelinho a desenvolver dois de seus melhores ofícios: as bolas paradas e os preciosos passes para seus companheiros. 
Apesar de já demonstrar ser um jogador vencedor ainda nos tempos de Rio de Janeiro, a melhor fase veio mesmo no Parque São Jorge. Em três passagens diferentes, que somadas renderam seis anos, 433 jogos e 206 gols, o Pé de anjo marcou uma era de alegrias e muitos títulos para o clube. Em seu primeiro ano – 1994 –, o Corinthians não obteve grandes resultados, porém conseguiu a bagagem necessária para o que viria pela frente. Mesmo não tendo alcançado o bicampeonato brasileiro, o time comandado por Marcelinho e Viola faturou a Copa Bandeirantes, torneio que abriu caminho para jogar a Copa do Brasil no ano seguinte. O cenário para 1995 estava mais do que preparado.
O ano de 1995 teve início e a Fiel logo teve motivos para comemorar. Após a conquista da Copa São Paulo de Juniores, o Timão, regido por Marcelinho, levantou o caneco em outras duas oportunidades no mesmo semestre. Segura no Campeonato Paulista, a equipe do Parque São Jorge se dedicou à reta final da Copa do Brasil. Depois de eliminar Operário-MS, Rio branco-AC e Paraná, o time do Parque São Jorge foi ao Rio de Janeiro encarar o Vasco, em pleno Maracanã. Melhor para o Timão, que venceu com gol de Marcelinho. No jogo da volta, em São Paulo, no estádio do Pacaembu, um sonoro 5 a 0 e a classificação à final contra o Grêmio. As duas finais com a equipe gaúcha provaram que o camisa 7 se tornaria o homem das decisões. Quando tudo caminhava para um empate em 1 a 1 no Pacaembu, Marcelinho, aos 26 do segundo tempo, desempatou, dando a vantagem ao Timão. Em Porto Alegre-RS, no dia 21 de junho, novamente ele, aos 27, marcou o gol do segundo grande título nacional do Timão, calando o Olímpico. Como num presságio, a Fiel comemorava, mas sabia que o Pé de Anjo logo voltaria.
© Pisco Del Gaiso/Placar

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Classificado para a final do Campeonato Paulista do mesmo ano, contra o maior rival, Palmeiras, o Corinthians se sagrou campeão mais uma vez sob a batuta de Marcelinho. Em duas partidas emocionantes realizadas em Ribeirão Preto-SP, no estádio Santa Cruz, o craque brilhou com dois gols. O primeiro tento foi marcado no jogo de ida, que acabou empatado em 1 a 1. Já o segundo foi uma verdadeira obra prima. Após levar o gol da equipe alviverde, o Timão voltou melhor do vestiário e, numa cobrança de falta aos 15, ele estava lá. Com uma barreira de cinco jogadores palmeirenses, outro embaixo da trave e o goleiro Velloso, Marcelinho praticamente colocou com as mãos a bola no único canto possível. Foi o lance que abriu o caminho para o título, sacramentado pelo golaço de Elivélton durante a prorrogação.
O ano seguinte não teve um pretexto para comemoração da Fiel, mas Marcelinho continuava ali. O Timão venceu o tradicional Troféu Ramón de Carranza, na Espanha, em cima do Real Betis com direito a dois gols do Pé de Anjo. Também em 1996, ele recebeu uma placa de Pelé após ter marcado um gol contra o Santos, na Vila Belmiro, em que chapela o zagueiro e bate no contra-pé do goleiro Edinho. Já em 1997, ele vence mais um Paulistão e se despede da Fiel para jogar no Valência, da Espanha. Apenas seis meses mais tarde, numa ação da Federação Paulista, que havia adquirido o passe de Marcelinho, ele retorna ao clube. No que ficou conhecido como “Disque Marcelinho”, quem ligasse mais, ao valor de três reais por chamada, veria o jogador em seu time. A Fiel venceu, é claro, com 62% dos votos.
Com a conquista do Campeonato Brasileiro de 1998, um novo ciclo no Parque São Jorge começava para ele. Contudo, a velha fama de jogador decisivo não havia ficado para trás. Em todas as partidas finais contra o Cruzeiro (2 a 2, 13/12; 1 a 1, 20/12; 2 a 0, 23/12), Marcelinho deixou sua marca. Integrando uma equipe repleta de lendas como Dida, Gamarra e Luizão, o craque da camisa 7 venceu novamente o Brasileirão e o Paulistão, em 1999, porém, não estava satisfeito e alcançou a glória máxima. O Mundial de Clubes da FIFA, em 2000, coroou a carreira do Pé de Anjo, que também venceria o seu quarto Paulista, em 2001, marcando gols na decisão contra o Botafogo de Ribeirão Preto-SP.
Depois de todo o ciclo de alegrias, títulos e declarações de amor, o craque dos pés pequenos – número 36 – encerrou a sua segunda passagem pelo Corinthians em 2001. Depois rodou por outras equipes até chegar ao Brasiliense-DF, onde protagonizou um episódio emocionante de reencontro com a Fiel. Em confronto válido pelo Brasileirão de 2005, a equipe do Distrito Federal visitou o Corinthians, no Pacaembu. O final da partida teve um bonito desfecho, no qual Marcelinho correu até o alambrado e se juntou à Fiel, que gritava visivelmente emocionada: “Uh, Marcelinho! Uh, Marcelinho!” e “Doutor, eu não me engano, o Marcelinho é corinthiano”. O reencontro foi tão forte que pouco tempo depois, ele voltaria.
Em 2006, após a eliminação da Libertadores, o Pé de Anjo vestia a camisa do Corinthians pela terceira vez. Apesar de ter sido contratado para se juntar ao elenco de Carlitos Tevez e Nilmar, ele jogou apenas oito partidas do Brasileirão. A sua despedida em jogos oficiais veio na vitória por 2 a 1 contra o Atlético-PR, no dia 5 de agosto, no estádio do Pacaembu, quando substituiu Carlos Alberto, no final da partida. Como forma de reconhecimento à carreira fantástica pelo Corinthians, Marcelinho teve uma bonita festa no ano do Centenário: um amistoso de despedida contra a equipe do Huracán, da Argentina, no dia 13 de janeiro de 2010, no estádio do Pacaembu. O adeus do ídolo veio em grande estilo: o velho jeito de bater na bola e o resultado de 3 a 0 para o Timão.  A Fiel desde então nunca mais se esqueceu das eternas cobranças de faltas, taças conquistadas, gols decisivos e a “segunda pele”, como diria Marcelinho.
© Alexandre Battibugli/Placar

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Confira a entrevista com o Pé de Anjo, eterno ídolo da Fiel:
Logo em sua primeira partida oficial com a camisa do Corinthians, marcou um gol na vitória por 3 a 1, contra a Portuguesa, no estádio do Pacaembu. Conte um pouco sobre como é marcar o primeiro gol frente a frente com a Fiel, em casa.
Marcar aquele gol na minha estreia foi sensacional, pois estávamos perdendo de 1 a 0 para a Portuguesa. Fui à loucura com o empate. Ali ficava marcado o que iria acontecer nos próximos jogos com a camisa do Timão.
Em 1995, naquele Corinthians e Palmeiras da primeira fase do Campeonato Paulista, você foi o grande herói da partida marcando dois gols, um deles numa bela cobrança de falta. Você chorou, arrancou a bandeirinha e se emocionou. Qual era o seu sentimento naquela ocasião?
Eu estava bastante confiante e sabia que a qualquer momento poderia decidir em uma cobrança de falta, até mesmo porque me preparava diariamente nos treinamentos. Gostava demais de fazer gols contra o Palmeiras, era determinado quanto a isso.
Fui à loucura e vi toda a galera chorando e gritando, meu êxtase total.
Neste mesmo ano de 1995, você participou e foi peça fundamental na conquista da Copa do Brasil. O Corinthians que havia se libertado do “azar” em competições nacionais com o Brasileiro de 90 e venceu a segunda neste âmbito. Como foi participar disso e marcar nas duas finais contra o Grêmio e na Semifinal com o Vasco, no estádio do Maracanã?
Marcar gols contra equipes grandes é muito bom, melhor ainda quando eles vêm em finais, porém você fica marcado como o homem que decide e a torcida gera uma expectativa em cima. Não podia decepcionar, logo treinava exaustivamente e me disciplinava em tudo. No Maracanã lotado, contra o Vasco, marcar aquele gol foi brilhante, pois saberia que estaria ajudando e muito para a próxima fase. Buscava os gols em finais.
Outro fato marcante neste histórico ano de 1995 foi a conquista do 21º Paulistão. O tabu em decisões contra o Palmeiras incomodava. Novamente nas duas finais – também fez gols contra o Grêmio pela Copa do Brasil – você marcou e levou o Corinthians ao título. Praticamente achou o único canto possível para colocar a bola naquela cobrança. Como você definiria os poucos segundos de concentração que antecederam o gol? 
Segundos antes, me concentrei como a Hortência do basquete nos lances livres. Desliguei de tudo e de todo mundo, fechei os olhos e lembrei dos treinos. “Eu posso, eu consigo, eu sou capaz. Faço isso diariamente”.
© Marcos Ribolli/Placar

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Sua grande especialidade era a forma com que batia na bola, principalmente imprimindo efeito que enganava os goleiros. Como desenvolveu essa habilidade e em que se baseava o seu treinamento?
Percebi desde criança observando a minha batida na bola e os comentários das pessoas. Quando cheguei ao Madureira, o meu treinador (ex-jogador) Apel falou: “Menino, você tem um talento diferenciado. Invista nisso e treine bastante. Com isso irá fazer a diferença”. Acreditei, treinei, me dediquei e deu muito certo.
Qual a partida mais marcante de sua carreira e o gol que você não esquece?
O gol memorável e antológico da Vila Belmiro, contra o Santos, em 1996, que me rendeu a placa. Já o jogo, para mim foi contra o Palmeiras, em 1995. Eu tinha errado um passe para o Vitor, lateral direito, o Roberto Carlos roubou a bola e fez o gol do rival. Imagine como ficou a minha cabeça e a torcida inteira pegando no meu pé. Entrei no vestiário e fiquei trancado por nove minutos, até que num determinado momento, o goleiro Ronaldo falou: “Cara, vamos lá, você vai decidir isso pra nós”. Abri a porta e fui com toda a força. Imagine a minha emoção depois do gol e a loucura em querer tirar a camisa, pular no alambrado, abraçar familiares e colocar pra fora todo o sentimento.
Você sempre diz que jogar pelo Corinthians era maravilhoso, mas por outro lado, como foi enfrentar o Corinthians no Pacaembu, por exemplo, quando ainda estava no Brasiliense?
Naquele momento vi que a minha segunda pele é eterna, pois estava por outro clube e o bando de loucos gritou loucamente o meu nome. Chorei demais. É uma emoção inexplicável.
Além de dar a hegemonia do Campeonato Paulista ao Corinthians, conquistando quatro edições (95, 97, 99 e 2001), você deu um lugar de destaque entre os grandes campeões nacionais com os dois Brasileiros (98 e 99) e a Copa do Brasil de 95, além de claro, ser campeão mundial. Como é poder se lembrar de tudo isso e ainda ser considerado um ídolo?
Você ser lembrado eternamente e estar na galeria do Timão é maravilhoso. Vou ao teatro, shopping, cinema e restaurante, e tenho o carinho e admiração de todo o corinthiano. Me sinto realizado e feliz demais.
Qual a sua lembrança do jogo de despedida no Centenário contra o Huracán (ARG)?
Terminar a carreira pelo Coringão foi brilhante. Ter 20 mil corinthianos gritando seu nome é sensacional. Minha gratidão não tem preço.
Mande um recado aos torcedores corinthianos que tanto te admiram:
Corinthians minha vida, Corinthians minha história, Corinthians meu amor. Obrigado de coração.

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