A primeira parte desse post gerou centenas de comentários e um bocado de incompreensão e críticas infundadas. Já na abertura deixei claro tratar-se de pesquisa sem caráter nacional, uma vez que foi realizada em apenas 13 praças: 11 regiões metropolitanas, a cidade de Brasília e o interior de São Paulo, representado por um elenco de cidades citadas no texto. Apesar de já explicado anteriormente, muitos confundem regiões metropolitanas – RMs – com capitais, de forma equivocada. Uma RM se forma em torno de um grande centro, geralmente uma capital (Campinas é exceção, por exemplo, mas nesse caso a pesquisa foi feita somente no município de Campinas e não em sua RM) e compreende um número variável de municípios, desde os 10 da RM de Salvador até os 39 da RM de São Paulo (em outro post desse OCE, aqui, há uma explanação a respeito das RMs).
É conhecimento comum que o Brasil tem pouco mais de 190 milhões de habitantes, a caminho dos 200 milhões e, justamente por isso, achei importante citar o tamanho do universo que a pesquisa abrangeu: 50 milhões de pessoas. Um quarto, pouco mais, de nossa população. Ora, enfatizei e reenfatizei o caráter não nacional da pesquisa. É óbvio que uma pesquisa realizada com essa distribuição geográfica restrita não pode ser interpretada como nacional!
Pelo menos dez das treze praças são os maiores centros consumidores do Brasil. É comum, uma vez que estamos falando e mostrando pesquisas de mercado, que algumas tenham caráter nacional e outras tenham um caráter mais restrito. Como, por sinal, deixo claro no texto, inclusive ao citar, linkar e comparar resultados dessa pesquisa com outra semelhante, realizada por outro instituto.
Muitas críticas foram feitas à inclusão do interior de São Paulo como uma das praças, com coleta de dados em sete cidades. Ora, segundo estudos e levantamentos realizados nesse ano de 2012, o interior paulista – todo o estado menos a Grande São Paulo e todo o litoral – tornou-se a região mais rica, ou de maior potencial de consumo do Brasil, ultrapassando a Grande São Paulo.
Disse no post e repito: pesquisas são planejadas e realizadas tendo por base os dados do recenseamento do IBGE. Toda pesquisa trabalha com números proporcionais de população. Assim, numa pesquisa nacional com 10.000 entrevistados, 2.140 entrevistas deverão ser realizadas no estado como um todo, uma vez que sua população (considerando dados de 2010) representa 21,4% da população do Brasil. Numa pesquisa que engloba regiões metropolitanas, o procedimento é semelhante, cada praça tem um número de entrevistas correspondentes à sua participação no total do universo considerado. Então, não tem mais entrevistas em São Paulo que no Rio em termos proporcionais. Mas tem, naturalmente, em números absolutos, porque é obedecido o critério básico de proporcionalidade.
O post só leva em consideração o universo formado pelas RMs, Brasília e interior paulista. Nessas regiões, a pesquisa identificou a maior torcida como a corintiana. Sim, há margem de erro e ela está citada para que cada um saiba e faça as próprias contas. Digo que houve uma ascensão dessa torcida, e houve, dentro do universo considerado.
Ao mesmo tempo, todavia, aponto um fator discrepante e que pode ser – atenção, corintianos, guardem as pedras que os flamenguistas talvez tenham posto no chão – o ponto de desequilíbrio positivo a favor do crescimento corintiano: a diferença de 23,5% a maior entre mulheres e homens na torcida. No perfil demográfico da torcida, que veremos no post seguinte já que esse está valendo apenas para mais esclarecimentos, veremos que ela é formada por 52% de mulheres e 48% de homens. Ora, disse e repito: mulheres e crianças ainda são dois públicos mais influenciados por desempenhos recentes e cobertura de mídia, o que talvez, e provavelmente, em minha opinião, explica parte dos números da torcida do Corinthians nessas regiões.
Pronto, agora estou bem arrumado, pois terei as leitoras todas contra mim. O que eu disse não deve ser entendido unicamente como “mulher não entende de futebol”. Entretanto, esse é um fato inegável para larga parcela do universo feminino, que está em processo de mudança. Acredito que em mais quinze ou vinte anos, a parcela de mulheres que gostam e acompanham futebol será muito maior do que é hoje, talvez até chegando perto da parcela similar entre os homens. Hoje, porém, 2012 AD, o que vemos é o que descrevi: uma parte entende, conhece, acompanha e torce; outra parte ignora; e uma outra parte manifesta algum interesse, algum conhecimento, estimulado pela mídia, principalmente, que por sua vez destaca os times mais vencedores.
Esse mesmo raciocínio em menor escala pode ser aplicado à influência da gurizada dos 10 aos 14 ou 15 anos, especialmente nas praças mais distantes da origem dos clubes de ponta.
A intenção desse OCE não é simplesmente oferecer uma informação mais restrita, mais pronta e acabada. Por ser um blog, por ser um espaço que se permite análises mais profundas ou mais extensas, bem como a emissão de opinião do autor, o objetivo é dar ao torcedor mais elementos para conhecer a realidade e, principalmente, refletir a respeito. Isso será difícil com posições pré-concebidas e, portanto, preconceituosas. Ninguém é obrigado a concordar com o que quer que seja, mas espera-se que uma opinião crítica, positiva ou negativa, seja emitida no mínimo a partir da leitura completa do texto e de cuidadosa observação das tabelas.
Transcrevo aqui o comentário de um torcedor do Flamengo, o Thales Bouchaton que, certamente, não só leu o texto como também olhou e interpretou as tabelas:
“Bom, a galera tem que parar de pensar com a paixão e ler um pouco mais antes de sair agredindo. Se vocês lerem o texto, direito e com calma, vão perceber que ele fala que a pesquisa NÃO TEM ABRANGÊNCIA NACIONAL!!!
E alguns ainda saem agredindo, gratuitamente.
Sou Mengão e qualquer um com um pingo de inteligência percebe que essa pesquisa reforça, ainda mais, a nossa superioridade numérica em cima do Corinthians. Se numa pesquisa na casa dos caras nós ficamos no “empate técnico”, imagina no Brasil inteiro! ”
Disse e repito: o instituto goza de grande credibilidade junto ao mercado, da mesma forma que outros mais, como IBOPE e Datafolha, por exemplo.
Para aqueles que desconfiam ou não conhecem esse OCE e seu autor, uma dica: aproveitem o final de semana e deem uma olhada na categoria Pesquisas – Tamanhos de Torcidas. O link está do lado direito do OCE.
fonte: http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2012/10/20/a-pesquisa-ipsos-marplan-sobre-as-torcidas-brasileiras-parte-ii-explicando-o-ja-explicado/
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